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“A coexistência harmoniosa entre áreas agrícolas e de vegetação nativa é uma necessidade”

Código Florestal e avanço da agropecuária foram discutidos ontem em mesa redonda

O professor Ricardo Ribeiro Rodrigues da ESALQ-USP analisou os códigos florestais de 1965 e 2012 e os impactos na ocupação territorial.

As relações entre a agropecuária brasileira e a preservação ambiental foram discutidas ontem (14/7), em conferência de Ricardo Ribeiro Rodrigues, docente da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP).

No decorrer da história do Brasil, a diversidade natural do País perdeu espaço para as áreas dedicadas à agricultura e à pecuária. Em 1800, por exemplo, cerca de 80% do Estado de São Paulo estava com a sua formação natural intacta. Já em 1907, essa área caiu para 56%. Em 1973, apenas 8% do Estado mantinha a estrutura original. A queda acentuada é resultado dos ciclos econômicos, marcados pela produção da cana-de-açúcar, café, soja, dentre outros produtos.

Rodrigues explicou que, atualmente, um terço do território brasileiro é dedicado à agricultura e à pecuária. Dessa parte, um quarto é utilizado para o plantio e outros três quartos são ocupados por áreas de pastagem que são pouco produtivas. “Não são as questões ambientais que limitam a produção, mas a falta de planejamento adequado”, analisou o professor.

Para a correta ocupação do solo, as áreas utilizadas na agropecuária devem destinar espaço para reservas legais e áreas de preservação permanente. Essas áreas de preservação permanente incluem as matas ciliares, formações vegetais que percorrem as margens dos rios. Rodrigues explicou que o local é importante para o equilíbrio ecológico, pois é ocupado por plantas que protegem os rios dos processos de seca e transbordamento, além de contribuir para manutenção do ecossistema. “O conjunto de fragmentos de matas ciliares é importante para a manutenção da biodiversidade”, destacou o docente.

A partir de um levantamento histórico, Rodrigues analisou o período de vigência do Código Florestal de 1965 e a situação a partir do novo Código Florestal, de 2012, e verificou que houve uma diminuição das áreas de proteção permanente. A nova legislação permitiu que a recuperação de reservas ocorra na forma de compensação ambiental em outra área, desde que corresponda à mesma microbacia. Assim, por exemplo, uma propriedade rural no Sudeste do País pode manter uma reserva no Nordeste. Além disso, nos estudos realizados por Rodrigues, cerca de 90% das propriedades analisadas não atendem o previsto pela atual legislação.

Ricardo Rodrigues salientou que é possível manter áreas reservadas à agricultura e à pecuária sem comprometer as reservas naturais e áreas de proteção. Para o docente, a manutenção dos espaços ricos em diversidade é importante para a instalação de uma economia sustentável, pois permite que diversos agentes, como polinizadores e predadores de pragas, mantenham o equilíbrio local. “A coexistência harmoniosa entre áreas agrícolas e de vegetação nativa não é uma possibilidade, mas uma necessidade”, concluiu o professor.

Mais informações sobre os trabalhos desenvolvidos por Ricardo Rodrigues podem ser obtidas no site do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (LERF) da Esalq.


Texto: Enzo Kuratomi (Comissão de Comunicação da Reunião Anual / CCS-UFSCar)

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