Paulo Nobre defende que desmatamento não deve ser encarado como problema local

Ontem (17/7), a Reunião Anual da SBPC voltou a sediar debate sobre a crise hídrica, a partir de conferência ministrada por Paulo Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Durante o evento, foram apresentados quadros históricos dos índices pluviométricos e das variações de temperatura no decorrer das décadas e fatores que influenciaram a falta de água no Estado de São Paulo. Nobre explicou como os modelos teóricos apontam para comportamentos mais extremos do clima, ou seja, que os períodos de chuva serão marcados por altos índices pluviométricos e enchentes, enquanto as épocas de seca serão caracterizados por longas estiagens.

Nobre reforçou que a redução de áreas florestais intensificou os efeitos das mudanças climáticas e a falta de água, pois a formação vegetal contribui para o abastecimento de aquíferos que estabilizam o volume dos rios. “As florestas são essenciais para os ciclos de recarga hídrica e a principal ferramenta para aumentar a resiliência às alterações climáticas”, afirmou o meteorologista. Nobre citou o exemplo da cidade mineira de Extrema, que passou por um processo de aumento das coberturas vegetais que resultou em minimização dos efeitos da estiagem na região Sudeste.

Nobre destacou que a crise hídrica dos últimos anos é um alerta para a necessidade de mudanças, como a preservação dos biomas, promoção do uso racional da água e redução da emissão de gases de efeito estufa. O pesquisador defendeu que os problemas de desmatamento e redução das reservas naturais não devem ser encarados como problemas locais de responsabilidade de gestores regionais, pois as consequências da falta de consciência ambiental ultrapassam as fronteiras estaduais e os danos não podem ser contabilizados nem repostos financeiramente. “Temos de zelar pelos serviços que as florestas prestam a toda a vida no Planeta”, declarou Nobre.

Texto: Enzo Kuratomi (Comissão de Comunicação da Reunião Anual / CCS-UFSCar)